Vivemos em um mundo de eventos climáticos extremos e o limite para a vida humana, o ponto de não retorno, nos espreita no horizonte. Se a arquitetura tem parte na produção dos extremos do clima, do uso de recursos e da injustiça climática, qual é o papel da arquitetura para reverter esse cenário? Enfrentar problemas extremos demanda soluções também extremas, radicais. Elas podem estar na ponta da ciência e da tecnologia. Ou podem estar no outro extremo, nas margens: nas respostas que emergem nas periferias das cidades ou nos saberes tradicionais conservados nas aldeias, nos quilombos.
Propostas produzidas no interior dessas diferentes formas de conhecimento, bem como pelo diálogo, fricção e aprendizado mútuo entre elas, propõem novos caminhos para enfrentar o aquecimento global e adaptar o habitat humano aos extremos climáticos com que já convivemos. Após uma década de edições descentralizadas, em 2025 a 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo retornará ao parque Ibirapuera, sua sede histórica, para reunir, na Oca, um conjunto dessas respostas produzidas no campo da arquitetura em diferentes partes do planeta. Outra aposta desta edição da BIAsp, um dos fóruns mais importantes de discussão dos desafios emergentes da arquitetura e do urbanismo, são as experimentações construtivas e de produção de soluções espaciais in loco.
Cinco eixos pautarão projetos, experiências, experimentos e discussões de transformação desse cenário que mirem a produção de cidades mais resistentes e resilientes, pois adaptadas aos extremos do clima e preparadas para retomar a vida após os desastres.
O primeiro eixo, Preservar as florestas e reflorestar as cidades, sugere a incorporação radical da biodiversidade como forma tanto de reverter o aquecimento global, ao capturar carbono da atmosfera, como de criar microclimas que atenuem ondas de calor. O segundo eixo, Conviver com as águas, reunirá experiências de renaturalização de córregos e de Soluções Baseadas na Natureza para estabilizar encostas, recuperar margens, trabalhando a favor do ciclo da água. O eixo Reformar mais e construir menos vai abordar o reúso adaptativo de construções obsoletas e o uso de materiais alternativos, que enfrentem o problema da imensa liberação de Gases de Efeito Estufa envolvida na construção civil. Por sua vez, o eixo Circular e acessar juntos tratará das possibilidades do planejamento urbano para reduzir os deslocamentos individuais e o uso de combustíveis fósseis. Finalmente, o eixo Garantir a justiça climática dará centralidade à desproporcional vulnerabilidade das populações mais pobres aos eventos climáticos extremos, grupo social que historicamente menos colaborou com o aquecimento global, mas que habita as áreas de maior risco: assentamentos em condições precárias, muitas vezes situados em encostas e várzeas.
Para construir a 14ª BIAsp, convidamos a sociedade a apresentar e desenvolver propostas concretas que unam os avanços da ciência do clima aos saberes ancestrais, combinando as novas tecnologias socioambientais a práticas e materiais tradicionais. Propostas que juntas nos ajudem a entender de quais arquiteturas precisamos para habitar um mundo além dos extremos.
Fortaleza, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo, 11 de novembro de 2024.
Curador Geral e Comitê Curatorial