Escrito e organizado pelos arquitetos Gino Caldatto Barbosa e Ruy Eduardo Debs Franco, livro mostra a atuação do homenageado, suas contribuições à vida acadêmica e trajetória profissional
Novo título das Edições Sesc SP, Oswaldo Corrêa Gonçalves arquiteto cidadão destaca as principais contribuições do engenheiro, arquiteto e urbanista nas diferentes áreas em que atuou. Nascido em Santos, em 1917, assinou projetos de residências, edificações esportivas, escolas e instituições, como é o caso das primeiras unidades do Sesc/Senac. Organizado pelos arquitetos Gino Caldatto Barbosa e Ruy Eduardo Debs Franco, o livro também destaca seu papel na criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), da FAU Santos e do Instituto de Arquitetos do Brasil, em São Paulo (IAB-SP).
No texto de apresentação deste lançamento, o diretor do Sesc SP, Danilo Santos de Miranda, afirma que o livro, ao abordar as diversas facetas profissionais do homenageado, permite pensar o arquiteto como uma plataforma de mediações. “A própria estrutura da obra é coerente com tal condição. Organizado a partir dos vários papéis assumidos de Gonçalves em sua trajetória, sugere a imagem de uma encruzilhada de motivações. Fica patente a impossibilidade de dissociar o autor-criador de suas outras personas: o professor engajado, o intelectual questionador, o gestor cultural e o ativista em prol da profissão”, diz.
Ainda de acordo com Miranda, as muitas interfaces entre Gonçalves e Sesc foram de grande importância. “Para o arquiteto, representaram a possibilidade de aproximar as premissas modernas do ideário educativo, projetando unidades compartilhadas entre Sesc e Senac nas décadas de 1950 e 1960 (em Santos, Marília, Bauru, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, esta última abrigando atualmente o Sesc Ribeirão Preto), além da sede compartilhada à época pelas duas entidades (atual sede do Senac). Para a instituição, tratou-se de um momento fundamental no amadurecimento de seus valores, para os quais a vocação urbana e modernizante de Oswaldo era estrategicamente simbólica”, afirma.
Uma personalidade complexa
Na introdução do livro, os autores afirmam que a obra, fruto de intensa pesquisa, não tem a pretensão de apresentar um recorte biográfico preciso e revela parte da vida de Gonçalves, que se formou em Arquitetura em 1941 quando esta ainda era atrelada ao curso de Engenharia da Escola Politécnica de São Paulo, área em que ele também se graduou, na mesma instituição, quatro anos depois. “Além de abordar os êxitos de sua produção profissional e os fazeres do arquiteto e do cidadão, buscamos ampliar o entendimento acerca de sua complexa personalidade”, argumentam.
Segundo Barbosa e Franco, o homeageado, que consideram um expoente de uma geração de profissionais alinhados pelo ideal moderno de pensar o edifício e a cidade como instrumentos transformadores da realidade coletiva, pontuou sua carreira por caminhos desiguais. “Para usar uma expressão em voga no atual mercado de trabalho, não foi um ‘especialista’, mas teve imenso envolvimento com a profissão, demonstrando na prática a visão universalista do arquiteto na atuação cotidiana. Sua trajetória profissional confunde-se com os caminhos percorridos pela história da arquitetura moderna no Brasil, marcados por compromissos ideológicos e por um projeto de desenvolvimento nacional, em que a consolidação da profissão passava pela organização dos suas entidades de representação de classe e pela formação acadêmica”, dizem.
Os autores ainda destacam o comprometimento de Gonçalves com a ampliação do campo de trabalho a partir de seu envolvimento em exposições, como a Bienal de Arte de São Paulo e a Bienal Internacional de Arquitetura, na luta pela formação do curso de Arquitetura no Estado de São Paulo e na criação do departamento paulista do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP) logo após o término da Segunda Guerra Mundial. Quanto a esse fato, o também arquiteto e urbanista Júlio Roberto Katinsky – que foi contemporâneo de Gonçalves – afirma no prefácio do livro que foi fundamental para a consolidação e desenvolvimento da profissão, firmando a arquitetura como necessária à civilização e deixando de ser uma atividade de poucos para se tornar de muitas pessoas dedicadas ao convívio de populações.
Assim como Katinsky, os autores também citam que o homenageado foi reconhecido tardiamente por seus pares como um dos mais ilustres protagonistas dessa fase. “A destacada atuação de Gonçalves nunca encontrou ressonância na crítica de arquitetura, que, de modo recorrente, silencia diante da importância dele para a história do modernismo brasileiro”, avaliam Barbosa e e Franco.
No entanto, e apesar do relativo isolamento mantido nos últimos anos de vida, o arquiteto, que faleceu em 2005, recebeu homenagens que endossam o alcance de sua atividade profissional em prol da coletividade. Honrarias como o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e o Prêmio Mário de Andrade, concedido pelo governo do Estado de São Paulo pelo destaque no campo da arquitetura brasileira, somam-se ao reconhecimento da Câmara Municipal de Santos ao lhe conceder o título de Cidadão Emérito por sua trajetória de vida.
SOBRE OS AUTORES
Gino Caldatto Barbosa é arquiteto, mestre e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Possui especialização em Restauração do Patrimônio Cultural pela Universitat Politécnica de Catalunya, em Barcelona, e pela Universitá La Sapienza, em Roma. Atuou como docente em cursos de Arquitetura e Urbanismo entre 1993 e 2019. É coautor dos livros Porto de Santos no século XXI, Museu Pelé – restauração e legado, Ruína de pedra de Cubatão, São Paulo Railway – álbum Militão Augusto de Azevedo, Marc Ferrez – Santos panorâmico, Santos e seus arrabaldes – álbum de Militão Augusto de Azevedo e Palácio do Café.
Ruy Eduardo Debs Franco é nascido em Santos (SP) e formado em Arquitetura e Urbanismo, com mestrado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sua experiência tem ênfase em planejamento e projetos da edificação e na orientação de trabalhos de conclusão de curso, atuando, principalmente, em Arquitetura e História. Autor de Artacho Jurado – arquitetura proibida, é um dos produtores dos documentários Arquitetura proibida, baseado no livro de sua autoria, e Régua & compasso.
SOBRE AS EDIÇÕES SESC SÃO PAULO
Pautadas pelos conceitos de educação permanente e acesso à cultura, as Edições Sesc São Paulo publicam livros em diversas áreas do conhecimento e em diálogo com a programação do Sesc. A editora apresenta um catálogo variado, voltado à preservação e à difusão de conteúdos sobre os múltiplos aspectos da contemporaneidade. Seus títulos estão disponíveis nas Lojas Sesc, na livraria virtual do Portal Sesc São Paulo, nas principais livrarias e em aplicativos como Google Play e Apple Store.