Zé Celso revolucionou constantemente o teatro sempre na direção de eliminar a passividade do “espectador” ao incorporar a pateia à ação e assim, mudou o teatro para te-ato ou como está escrito na calçada do Teatro Oficina, TEAT(R)O. Lutou para que todos pudessem expressar com liberdade suas ideias e exercerem seus desejos. São 65 anos ininterruptos da existência do Teatro Oficina, além das transformações nos fundamentos da dramaturgia e na forma de organização do corpo teatral da Oficina Uzyna Uzona, frutificando num coeso, ativo e criativo conjunto de pessoas, como provam as recentes obras levadas pelo grupo no templo bacante e terreiro eletrônico da rua Jaceguai 520.
As transformações não se restringiram à concepção teatral, cênica, comportamental, política e sempre estiveram ligadas à arquitetura, (até porque, seu irmão, João Batista Martinez Correa é um grande arquiteto), seja na arquitetura cênica ou na própria criação de novos espaços, assim, em 1958 quando o grupo de teatro fundado por alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco alugou o então Teatro dos Novos Comediantes, no Bixiga, delegou ao arquiteto Joaquim Guedes a transformação do então teatro com palco italiano, em uma arena com duas arquibancadas opostas, o teatro sanduíche:
Numa tragédia inexplicada, em 1966 o fogo consumiu totalmente o teatro e, das cinzas, uma campanha arrecadou fundos para a reconstrução, com projeto de arquitetura de Flavio Império, Rodrigo Lefèvre e Sergio Ferro, que, mantendo as paredes envoltórias criaram uma grande arquibancada de concreto com palco giratório:
Após a volta do exílio que passou pela Europa e África, Zé Celso e o grupo reassumiram o espaço do Teatro Oficina, já decidido que a separação entre palco e plateia e a quarta parede do palco italiano não mais serviriam para o projeto teatral do que estava por vir, associado à luta, mantida até hoje, pela permanência territorial do Oficina no pequeno grande terreno de 9m x 50m da rua Jaceguai 520, passando pelo seu tombamento pelo patrimônio histórico, baseado no inovador e lendário parecer do então conselheiro do CONDEPHAAT Flavio Império, e posterior desapropriação pelo Patrimônio Público Estadual.
O projeto de arquitetura para atender à concepção cênica de Zé Celso e do grupo Oficina, levou 10 anos para ser elaborado e executado, de 1984 quando juntou os arquitetos Lina Bardi e Edson Elito que fizeram o projeto, até 1994 quando da conclusão da obra, uma rua em continuação ao tecido urbano do Bixiga, onde tudo está à vista, todo espaço é cênico:
Foto Jennifer Glass
Ao apontar integração urbana e com o entorno desocupado do quarteirão, hoje é reivindicado o Parque do Rio Bixiga, onde muitas mãos de arquitetos participam, coordenados pela arquiteta Marília Gallmeister.
O IAB está com Zé Celso.