Foto: Le Savastano
EMENTA:
“Eu acho que o que a gente pode fazer com a arte é dar pequenos toques para a sociedade […] a gente consegue mostrar algumas coisas”, comenta Leonilson em uma conversa de 1991 com Adriano Pedrosa, publicada na antologia Histórias LGBTQIA+ do MASP.
Gosto dessa ideia do toque — tanto no sentido de encostar (mais ou menos sutilmente), sentir suas consistências e talvez até mover algo de lugar ou desmontar o que está estável, quanto no sentido de fazer alguém se tocar, tocar a si e mexer em seus pontos de vista. É nesse gesto que convido a pensarmos, em diálogo com artistas, momentos em que a arte toca o espaço, e a nossos corpos.
Este curso propõe uma reflexão sobre as relações entre arte, arquitetura e urbanismo como um campo crítico para pensar espacialidades, projetos e projeções. A partir do entendimento da arquitetura como materialização da história, produto e produtora de relações sociais e culturais, reconhecemos que a constituição narrativa desses imaginários é, em si, um espaço em disputa, uma vez que são frequentemente oficializados com base na produção de grupos privilegiados.
Nos interessa, portanto, o que a arte pode desestabilizar ao tocar estruturas espaciais.
O que as ações artísticas podem nos fazer perceber nas arquiteturas – sociais, físicas e simbólicas? Como a arte pode nos guiar na experiência dos espaços, ampliando nossas capacidades imaginativas e visibilizando múltiplas existências? De que maneira essas ações podem desorganizar espaços e discursos normativos? O que não está imediatamente visível na matéria? O que há de interdito que constitui esse território? Quais são os enunciados considerados válidos — ou não — no imaginário coletivo? Quais corpos são de fato considerados no desenvolvimento do pensamento arquitetônico, e quais são descartados? Como habitar espaços em colapso?
A noção de estética do colapso, proposta por Jack Halberstam, nos ajuda a pensar essas questões. A partir da obra de Gordon Matta Clark (anos 1970) e de artistas contemporâneos como Yves Laris Cohen e Cassils, Halberstam propõe a ideia de uma anarquitetura — que mobiliza um vocabulário baseado em cortes, brechas, desconstruções e desmontes para imaginar outras espacialidades e corporalidades. Em vez de reforçar formas estabilizadas de ordenamento, essas práticas revelam os limites do que é considerado habitável, possível, visível.
É nesse ponto de tensão — entre toque e colapso — que situamos este curso. Em vez de buscar respostas fixas, abrimos espaço para pensar junto com imagens, práticas e agenciamentos que tocam e desfazem certezas arquitetônicas. Não buscaremos esgotar os temas ou aprofundar análises críticas sobre as obras, mas sim experimentar metodologias de pensar com as imagens e seus agenciamentos.
Com foco na contribuição das pessoas dissidentes para o pensamento dos espaços e espacialidades, juntes, observaremos os movimentos das imagens, deixando que elas nos toquem, para abrirmos outras formas de ver (e percorrer) a arquitetura das coisas.
O curso será desenvolvido em quatro encontros, organizados em três eixos temáticos:
• (O) que (é) espaço? – Percorreremos o conceito de espaço e de suas representações por concepções clássicas da história da arquitetura, do urbanismo, da arte e da geografia. Dialogaremos com práticas artísticas que tensionam essas definições e teremos como foco a pesquisa e poética de Rommulo Vieira da Conceição, além de outras obras que trabalham o espaço por meio de instalações, construções e representações.
• Operações historiográficas – Neste eixo, dividido em dois encontros, nos aproximaremos de obras artísticas que mobilizam operações historiográficas, com foco nos trabalhos de Jaime Lauriano e Lais Myrrha. Analisaremos como essas práticas evidenciam disputas simbólicas e narrativas políticas que se inscrevem e se materializam na cidade, questionando a suposta neutralidade da arquitetura e do urbanismo.
• Epistemologias LGBTQIA+ – No último encontro, investigaremos relações entre corpos dissidentes e espaço, com ênfase em epistemologias trans*. Nos guiaremos por uma cena de artistas e ativistas trans* que vem se intensificando desde a década de 2010 — com destaque para as práticas de Élle de Bernardini, Uýra Sodoma e Jota Mombaça — para pensar como experiências LGBTQIA+ desestabilizam normas espaciais e desorganizam binarismos e projetos totalizantes.
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