Quando a arte toca o espaço – o que revela sobre a arquitetura?

Data: 17, 24, 31 de julho e 07 de agosto de 2025
Local: Plataforma: Zoom
Horário: 19h às 21h30
Investimento: R$ 350,00 (público geral) – R$ 245,00 (associadas/os/es IABsp)
Formato: Online
Carga horária: 10h
Vagas: 40
Bolsas integrais: 4

Foto: Le Savastano

EMENTA:

“Eu acho que o que a gente pode fazer com a arte é dar pequenos toques para a sociedade […] a gente consegue mostrar algumas coisas”, comenta Leonilson em uma conversa de 1991 com Adriano Pedrosa, publicada na antologia Histórias LGBTQIA+ do MASP.

Gosto dessa ideia do toque — tanto no sentido de encostar (mais ou menos sutilmente), sentir suas consistências e talvez até mover algo de lugar ou desmontar o que está estável, quanto no sentido de fazer alguém se tocar, tocar a si e mexer em seus pontos de vista. É nesse gesto que convido a pensarmos, em diálogo com artistas, momentos em que a arte toca o espaço, e a nossos corpos.

Este curso propõe uma reflexão sobre as relações entre arte, arquitetura e urbanismo como um campo crítico para pensar espacialidades, projetos e projeções. A partir do entendimento da arquitetura como materialização da história, produto e produtora de relações sociais e culturais, reconhecemos que a constituição narrativa desses imaginários é, em si, um espaço em disputa, uma vez que são frequentemente oficializados com base na produção de grupos privilegiados.

Nos interessa, portanto, o que a arte pode desestabilizar ao tocar estruturas espaciais.

O que as ações artísticas podem nos fazer perceber nas arquiteturas – sociais, físicas e simbólicas? Como a arte pode nos guiar na experiência dos espaços, ampliando nossas capacidades imaginativas e visibilizando múltiplas existências? De que maneira essas ações podem desorganizar espaços e discursos normativos? O que não está imediatamente visível na matéria? O que há de interdito que constitui esse território? Quais são os enunciados considerados válidos — ou não — no imaginário coletivo? Quais corpos são de fato considerados no desenvolvimento do pensamento arquitetônico, e quais são descartados? Como habitar espaços em colapso?

A noção de estética do colapso, proposta por Jack Halberstam, nos ajuda a pensar essas questões. A partir da obra de Gordon Matta Clark (anos 1970) e de artistas contemporâneos como Yves Laris Cohen e Cassils, Halberstam propõe a ideia de uma anarquitetura — que mobiliza um vocabulário baseado em cortes, brechas, desconstruções e desmontes para imaginar outras espacialidades e corporalidades. Em vez de reforçar formas estabilizadas de ordenamento, essas práticas revelam os limites do que é considerado habitável, possível, visível.

É nesse ponto de tensão — entre toque e colapso — que situamos este curso. Em vez de buscar respostas fixas, abrimos espaço para pensar junto com imagens, práticas e agenciamentos que tocam e desfazem certezas arquitetônicas. Não buscaremos esgotar os temas ou aprofundar análises críticas sobre as obras, mas sim experimentar metodologias de pensar com as imagens e seus agenciamentos.

Com foco na contribuição das pessoas dissidentes para o pensamento dos espaços e espacialidades, juntes, observaremos os movimentos das imagens, deixando que elas nos toquem, para abrirmos outras formas de ver (e percorrer) a arquitetura das coisas.

O curso será desenvolvido em quatro encontros, organizados em três eixos temáticos:

• (O) que (é) espaço? – Percorreremos o conceito de espaço e de suas representações por concepções clássicas da história da arquitetura, do urbanismo, da arte e da geografia. Dialogaremos com práticas artísticas que tensionam essas definições e teremos como foco a pesquisa e poética de Rommulo Vieira da Conceição, além de outras obras que trabalham o espaço por meio de instalações, construções e representações.

• Operações historiográficas – Neste eixo, dividido em dois encontros, nos aproximaremos de obras artísticas que mobilizam operações historiográficas, com foco nos trabalhos de Jaime Lauriano e Lais Myrrha. Analisaremos como essas práticas evidenciam disputas simbólicas e narrativas políticas que se inscrevem e se materializam na cidade, questionando a suposta neutralidade da arquitetura e do urbanismo.

• Epistemologias LGBTQIA+ – No último encontro, investigaremos relações entre corpos dissidentes e espaço, com ênfase em epistemologias trans*. Nos guiaremos por uma cena de artistas e ativistas trans* que vem se intensificando desde a década de 2010 — com destaque para as práticas de Élle de Bernardini, Uýra Sodoma e Jota Mombaça — para pensar como experiências LGBTQIA+ desestabilizam normas espaciais e desorganizam binarismos e projetos totalizantes.

30% DE DESCONTO PARA ASSOCIADO
*A compra poderá ser feita na modalidade “Ingressos – Associadas/os IABsp”. A compra será validada mediante comprovação da associação. Qualquer dúvida, escrever para: cursos@iabsp.org.br.

*Associadas(os) de outros estados, é necessário enviar o comprovante de quitação junto ao seu departamento para o e-mail cursos@iabsp.org.br.

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Os pedidos de bolsa devem ser encaminhados até 10 de julho, clique aqui para acessar o formulário.

Ministrante

Le Savastano

Le (ele/dele) é arquiteto e urbanista formado pela FAU Mackenzie (2012–2017), mestre pela FAUUSP (2019–2021) e doutorando no programa interdisciplinar DIVERSITAS – Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (FFLCH-USP), com bolsa do CNPq. Integra o grupo de pesquisa CÓCCIX – Estudos Interdisciplinares do Corpo e Território e é professor assistente no curso de pós-graduação Arquitetura, Educação e Sociedade (AES) da Escola da Cidade, onde também integra a Plataforma de pesquisa Práticas Espaciais.

Pesquisador das relações entre arte, arquitetura, urbanismo e espacialidades, no mestrado investigou discursos da historiografia da arquitetura em diálogo com artistas contemporâneos no Brasil. No doutorado, aprofunda essa interlocução para refletir sobre os espaços a partir das questões de sexualidade e gênero, com foco em uma perspectiva trans*, também em diálogo com artistas e considerando suas próprias experiências como pessoa trans*.
http://lattes.cnpq.br/0624615573771079

Programação aula a aula

17/07: (o) que (é) espaço?

Este primeiro encontro terá um momento inicial dedicado à apresentação da estrutura do curso e das pessoas participantes, com uma dinâmica a definir conforme o tamanho do grupo.

Em seguida, abordaremos o conceito de espaço de maneira ampla, acompanhando a pesquisa do artista Rommulo Vieira da Conceição, que questiona: “Do plano ao espaço… mas, que espaço?”. Seguiremos seu percurso investigativo sobre o conceito de espaço físico nas artes visuais e nas ciências, refletindo sobre como essas abordagens informam sua poética visual.

A partir disso, discutiremos diferentes concepções do espaço, desde sua dimensão geográfica e social tradicionais (Henri Lefebvre, David Harvey e Milton Santos) até abordagens contemporâneas, como as de Jack Halberstam, Paola Berenstein Jacques e Sil Nascimento, mobilizando críticas sobre a ausência de interseccionalidade em leituras tradicionais da geografia, principalmente no que se refere a dimensões de corporalidades, raça, gênero e sexualidade.

Dinâmica: Parte A (aula expositiva) seguida de Parte B (comentários da turma sobre as imagens)

24/07: Operações historiográficas – Jaime Lauriano

Neste encontro iniciaremos a discussão prevista para os encontros 2 e 3, sobre disputas simbólicas nos espaços públicos e como expressões imagéticas operam como narrativas. O foco será a produção de artistas que utilizam elementos e linguagens arquitetônicas, como mapas, cartografias e materiais construtivos recorrentes em edificações, para tensionar as relações entre história, política e território.

Nosso principal referencial do encontro 2 será Jaime Lauriano, cuja obra investiga a materialidade dos territórios e seus vínculos com processos coloniais e contemporâneos de violência. Discutiremos as contra-cartografias como estratégias para repensar narrativas espaciais, analisando como os mapas tradicionais ocultam ou distorcem histórias de violência e resistência. Abordaremos processos de historicização da arquitetura e do urbanismo, processos de mão de obra e técnicas construtivas.

Dinâmica: Parte B (comentários da turma sobre as imagens) seguida de Parte A (aula expositiva).

31/07: Operações historiográficas – Lais Myrrha

Dando continuidade às reflexões sobre disputa simbólica nos espaços, o terceiro encontro será dedicado à obra de Lais Myrrha. Sua produção artística questiona as leituras normativas da arquitetura e do urbanismo, desestabilizando acordos sociais que sustentam determinadas formas de construir e representar espaços.

Refletiremos sobre como suas obras abordam a relação entre memória, apagamento e arquitetura, trazendo à tona histórias de violência e esquecimento, inclusive a respeito de mão de obra e pessoas que trabalham nas construções e canteiros.

Discutiremos de que maneira Myrrha mobiliza elementos arquitetônicos e materiais simbólicos para destrinchar mitologias em torno da arquitetura das coisas e revela os códigos organizadores das cidades modernas e suas ligações com narrativas eurocêntricas, refletindo sobre como essas estruturas condicionam a forma como pensamos e ocupamos os espaços.

Dinâmica: Parte B (comentários da turma sobre as imagens) seguida de Parte A (aula expositiva).

07/08: Espaço trans?*

O quarto encontro será dedicado a questões de gênero sob uma perspectiva LGBTQIA+, investigando a relação entre corpos trans* e espaço. Dialogaremos com performances, fotoperformances e body art, tendo como referências principais as obras de Élle de Bernardini, Uýra Sodoma e Jota Mombaça.

A partir desses trabalhos, refletiremos criticamente sobre a possibilidade de se falar em espaços ou arquiteturas trans* ( ou epistemologias trans* para pensar o espaço), em diálogo com Lucas Crawford. Também discutiremos como a arquitetura opera como uma tecnologia biopolítica de produção de gênero e sexualidade, inspirades por Paul B. Preciado. Por fim, examinaremos as relações entre gênero e espaços públicos e privados, questionando as normas espaciais que estruturam corpos e identidades.

 

Ao final desta aula, dedicaremos um tempo para considerações finais a respeito dos quatro encontros, com foco na contribuição das pessoas dissidentes para o pensamento dos espaços, espacialidades e arquiteturas.

Dinâmica: Parte B (comentários da turma sobre as imagens) seguida de Parte A (aula expositiva).

Condições de inscrição

Cláusula 1: A confirmação da inscrição da/o estudante se dará apenas após comprovação de pagamento via plataforma INTI.

Cláusula 2: A realização do curso se dará mediante a inscrição mínima de 10 pessoas. caso isso não ocorra, o IABsp irá restituir o valor das inscrições realizadas em até 30 (trinta) dias após o envio dos dados pela/o estudante.

Cláusula 3: São aplicadas a desistências as seguintes regras:

a) A desistência da/o estudante deverá ser formalizada mediante requerimento para o e-mail cursos@iabsp.org.br juntamente com o envio dos dados bancários e CPF.

b) Se a desistência ocorrer em até 24 (vinte quatro) horas de antecedência ao início do curso, o IABsp restituirá 80% do valor total do curso.

c) Iniciado o curso, não será mais possível fazer o cancelamento da inscrição, e o IABsp não irá restituir o valor pago.

Cláusula 4: O IABsp reserva o direito de cancelar ou adiar a realização dos cursos até a data marcada para o seu início, comunicando o fato à/ao estudante já inscrito. no caso de cancelamento, a/o estudante será reembolsado da importância paga no prazo de 15 (quinze) dias úteis a contar da comunicação do cancelamento do curso.

Cláusula 5: O IABsp não se responsabiliza por problemas técnicos de internet das/os inscritos. ao estudante cabe garantir uma boa conexão para acompanhamento das aulas.

Cláusula 6: Só poderão se inscrever maiores de 18 anos de idade.

Cláusula 7: Será concedido certificado digital de participação para os alunos que tiverem, no mínimo, 75% de presença nas aulas.

Cláusula 8: Ao enviar se inscrever a/o estudante concorda com as cláusulas apresentadas anteriormente.

Próximos cursos

Ainda não temos novos cursos marcados.